Páginas

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Orgulho de ter mudado?

Menos pelo conteúdo que o atual prefeito Miguel Haddad apresentou recentemente em entrevista no Jornal de Jundiaí e mais pelo tom, o recado está transmitido: ele permanece no jogo e não deixará as pessoas esquecerem a contribuição que deu para a cidade até aqui – não muda de partido porque o PSDB tem o DNA da mensagem a ser trabalhada.

Se a população resolveu exercer a saudável alternância de poder, não quer dizer que não credite ao longo e bem sucedido projeto político tucano, boa parte – se não a totalidade – dos méritos pelo sentimento de orgulho da cidade. O desafio de manter e transformar essa percepção será do tamanho da expectativa que o prefeito eleito, Pedro Bigardi, gerou na campanha eleitoral. 

O orgulho de ser jundiaiense sempre foi o principal mote do partido que agora deixa o poder para pregar o certo contra o duvidoso. Construiu isso com muita habilidade e só chegou ao segundo turno nesta eleição pela solidez desse alicerce – mesmo diante dos inúmeros erros na campanha, do desconhecimento do nome de seu candidato, Luiz Fernando Machado, perante os eleitores e do extremo desgaste natural pelos mais de 20 anos de poder. 

Curioso o fato de que o slogan da campanha vitoriosa, “Confiança para Renovar”, poderia naturalmente ser utilizado por Machado. A própria frase reconhece o legado e propõe à cidade que, simplesmente, renove. Comum ouvir no pleito de muitos eleitores que não importava o motivo, mudar era preciso. 

Derrotado quatro vezes na tentativa de chegar à chefia do Executivo, o prefeito do PCdoB terá agora que arcar com o ônus de governar uma cidade que não se contenta com pouco e construir na prática a imagem de bom gestor, conseguindo aliar o apetite naturalmente voraz de partidos há tantos anos na espreita com sua promessa de cortar significativamente os cargos em comissão e privilegiar nomes técnicos, por exemplo. 

Cada nomeação de um secretário inexperiente ou reconhecido pela opinião pública como mera acomodação política poderá no caso de uma eventual crise do futuro governo, servir de munição para ser acusado de incompetente e fraco politicamente, o contraponto ideal para abastecer o grupo liderado por Haddad. 

Bigardi não terá elementos para seguir os passos do ex-presidente Lula e demonizar seu antecessor. Mesmo com a grande contribuição dada ao país, Fernando Henrique Cardoso entregou o governo num período de crise econômica e, apesar dos significativos avanços institucionais, com uma das maiores desigualdades sociais do planeta. 

Estratégia diversa foi usada por Bigardi em recente artigo publicado no Jornal Bom Dia Jundiaí, assinado em conjunto com sua futura secretária de Planejamento, Daniela Câmara, onde buscou ligar a paternidade do sucesso de Jundiaí a razões como a privilegiada localização geográfica e importantes períodos históricos, de certa forma buscando desconstruir a imagem projetada pelo PSDB. 

Para desmontar a armadilha posta adiante, o grupo político do futuro governo precisa ir além desse frágil discurso e materializar perante os olhos da população o porquê sua vitória foi necessária. Mesmo se conseguir manter o padrão administrativo, terá que mudar claramente práticas políticas, como se comprometeu, e ser reconhecido por isso. 

Márcio Ferrazzo é estudante e empresário. Foi assessor especial da Juventude dos governos Ary Fossen e Miguel Haddad (PSDB), presidente dos Novos Tucanos de Jundiaí e secretário estadual de Jovens Candidaturas do partido. Desde janeiro de 2012, se desligou da atividade partidária e governamental.