Estive segunda à noite com o violonista Claudinei Duran. Não há outra palavra para defini-lo que o adjetivo "gênio". Além do virtuosismo musical, passa noites submerso em literatura.
Conheci Claudinei numa situação inusitada. Eu era moleque e tinha um violão, que mal sabia como pegar, mas imaginava tocar. Um dia, tive a ilusão de levar o instrumento para a festa de aniversário de um amigo, mas não sabia afinar.
Lembrei que em frente à casa da minha tia, havia uma placa de aulas de violão. Fui até lá para pedir ajuda para quem quer que fosse o professor, mas não tinha ninguém. Perguntei, então, a meninos que jogavam bola na rua se o conheciam. Disseram que não, mas que poderiam indicar outro.
Fui levado à casa do Claudinei, na rua de baixo, que também não estava. Mas sua esposa gentilmente me explicou que no momento ele cortava cabelo, seu ganha pão adicional, no salão ali próximo. Fui até lá, ele me pediu para esperar ele terminar e subimos juntos a sua casa, onde ele afinou o violão e me deu seus contatos.
Mais de um ano depois, quando tive vontade de fazer aula, o procurei e tive a sorte de começar uma escola não só de violão, mas de sensibilidade, arte no sentido mais amplo. Aliás, Claudinei sempre me incentivou muito a escrever. Quando ele foi passar uma temporada na Suiça, cheguei até a publicar um artigo, chamado "Exílio", contando sua busca por um público difícil de encontrar no Brasil, apreciador de música de qualidade.
Basta imaginar que comecei as aulas querendo aprender música sertaneja e terminei viciado em Chico Buarque. Saí de lá segunda com o livro "Estorvo", do Chico, para ler, um projeto novo, em que Claudinei fará a curadoria, e a melhor definição de estilo que já ouvi, válida em tudo na vida:
"A música é feito uma mulher nua. Você veste como quiser. Se quiser levá-la a um retaurante fino, veste de um jeito, se quiser levá-la a um boteco, veste de outro."
E roupa boa é de alfaiate!
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