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sexta-feira, 8 de maio de 2009

Virada à Paulista

Como o diretor teatral Carlinhos Pasqualin definiu a Virada Cultural de São Paulo, no artigo Virada à Paulista, publicado no jornal Bom Dia e transcrito abaixo.

Foto da fenomenal dança com escavadeira, roubada com autorização do orkut do Carlinhos.

Megalópole com outra expressão, não aquela da correria, do stress do dia a dia, uma com ares de “tem coisa boa no ar, no chão”. Somos convidados a participar do evento junto a outras pessoas de todas as raças, sexo e idades.
A Aventura começa, nota-se num foco de luz, solto em frente ao antigo prédio do DEIC, um magistral saltimbanco, homem da rua, artista na rua, não contratado, mergulhado em uma compenetrada coreografia com direito a platéia participativa.
Uma roda/reunião de punks sentados na fachada de uma igreja chama a atenção para uma pintura que atrai olhares no mínimo curiosos: cabelos esculpidos na rebeldia, roupas moldadas de protestos, cartão postal que revela um diálogo de muito contraste e escancara a desvairada paulicéia.
Alguns passos e numa esquina um pequeno, minúsculo caminhão/palco encanta paulistanos e alucina Nordestinos, já um tanto quanto paulistanos, com instrumentos e letras no ritmo de um forró de raiz, indumentária a caráter, empatia e qualidade musical que redesenham os pés no chão em movimento e fazem brotar emoção em forma de quermesse.
Grandiosidade na delicadeza dos dedos de uma tocadora de harpa com seu aparato gigantesco, cujas cordas atravessam a Praça Ramos, sobre passam a platéia e terminam nos altos do Teatro Municipal.
Grandiosidade e leveza num balé pra lá de contemporâneo, onde um bailarino francês e sua parceira: uma retro-escavadeira, se enamoram com a Praça do Correio como pano de fundo.
Grande também o desenho frenético de cinco acrobatas/bailarinos num tom melancólico e sarcástico, um presídio/hospício pós-guerra, talvez percebido em homens temerosos, sem rumo.
Corpos de baile das grandes companhias do país se revezam num dos palcos. Dançam as angústias, dores, alegrias. O público, maravilhado, se emociona, aplaude e enriquece seu repertório de possibilidades para a semana que virá. Recarga ilustre para o dia a dia.
E por falar em dia a dia, um edifício que está ali numa outra esquina e que não se faz percebido por milhares de pessoas que circulam a região cotidianamente, foi estrela da noite em vários momentos com a aparição de misteriosas luzes vindas do interior das janelas, música sinistra e público absurdado a mirar seus olhos para o alto, tentando decifrar a coreografia de luzes.
Grande também o público maluco beleza, com gente aparentemente fantasiada, vivendo o ídolo com caracterização e comportamento. Muitas bandas se reúnem em plena Estação da Luz para lembrar Raul Seixas, um ídolo sim! A metrópole se rendeu ao rock genuinamente brasileiro se metamorfoseando em quase um Festival de Águas Claras.
Ainda na Luz, a luz, o fogo, uma imensa instalação montada no Parque com ferragens e vasos propõe ao público um passeio jamais imaginado. Se circular essa região durante o dia tem sido complicado, devido a violência instaurada, a Arte repensa o local e convida o público, agora sem o menor receio, a adentrar ao Parque em busca do fogo, da luz e do sagrado simbolizados nesses elementos.
Grande festa desperta a cidade! Que acorda mais rica... que acorda mais leve... que acorda com a sensação de que algo está alterado, melhorado. Seria a possibilidade de respirar uma São Paulo vista pelas lentes da ARTE?
Calmamente, aguardo então a nossa Virada, a Virada Cultural de Jundiaí.

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